sábado, 7 de fevereiro de 2009

A GUERRA COLONIAL EM ANGOLA






SANTA BÁRBARA NA MATA DOS DEMBOS


A Bateria de Artilharia 147, fora instalada na Roça Bom Jesus, a sul de Pango Aluquém, nos Dembos, para efectuar tiros de flagelação sobre itinerários e possíveis redutos de acantonamento de guerrilheiros, e protecção da Infantaria, como em guerra clássica, que progredia para sul.
Ao despontar do dia 4 de Dezembro de 1961, dia de Santa Bárbara, padroeira dos artilheiros, não havia qualquer programação bélica. Mas Santa Bárbara tinha que ser lembrada. Nada melhor do que fazer uns tiros de em sua honra. Carregado o obus, o comandante grita:
- Tiro!!!
O servente manobrador da culatra acciona o dispositivo e troam dois estrondos quase simultâneos. O rebentamento da carga de propulsão da granada e o rebentamento, dentro ou à boca do tubo, da própria granada. Devido à pressão dos gases, a manga do tubo do obus partiu-se.
Após grande perturbação e expectativa, verificou-se que apenas um militar fora atingido com um pequeno estilhaço na cabeça, logo evacuado para Luanda.
Castigo de Santa Bárbara? Especulação de crentes. Obra do acaso? Talvez certeza de não crentes.
A meio da manhã, chegou um Capelão que celebrou Missa, com caixas de munições a servirem de altar, e a falou das virtudes da mártir Santa Bárbara .
Santa Bárbara foi uma virgem, muito bela, dos inícios do século IV. Por ser cristã, o próprio pai entregou-a aos romanos. Após vários tormentos, foi decapitada. Pouco depois do seu martírio, o seu pai foi fulminado por um raio. É advogada nas trovoadas e padroeira dos que utilizam explosivos (artilheiros, mineiros, fogueteiros, etc.).
Albano Mendes de Matos

A manga estilhaçada do obus, no dia 4 de Dezembro de 1961, na Roça Bom Jesus, em Angola.


Celebração da Missa em honra de Santa Bárbara, na Roça Bom Jesus, no dia 4 de Dezembro de 1961, com o altar armado sobre caixas de munições. À direita, o soldado sacristão com uma vela.



A GUERRA COLONIAL EM ANGOLA


UIVOS E CLAMORES NAS PICADAS DE ANGOLA

A coluna de socorro e reabastecimento progredia em marcha lenta. O perigo podia estar perto. Acutilante e atenta a observação. O terreno pouco acidentado. Subiam lombas, passavam plainos, atravessavam aterros e trincheiras, sob a impressionante cúpula das ramagens. Adiante, a tropa apeada farejando as bermas. Atrás, na expectativa, as viaturas de reabastecimento e o pessoal de escolta. O sargento Norberto e o soldado Elias ou Golias iam na segunda viatura. A tropa em perfeita coordenação. A missão era humanitária. Socorrer irmãos de armas. A tensão nervosa aumentava com o passar dos minutos. As espingardas tremiam. Os olhos vigiavam. Os medos apertavam as almas.

- Põe-te a pau, Elias, que estamos perto! - ciciou o sargento Norberto.

- Olho vivo e dedo ligeiro é o preciso, meu sargento! - respondeu o soldado, olhando em redor.

- Tanto silêncio, está a cheirar-me a esturro - disse o sargento.

- Que se cheguem, que levam p’ra carvão! - respondeu Elias ou Golias.

- Pode ser que não seja nada!

- A guerra é para os homens, meu sargento! - gracejou Elias ou Golias.

- Já há mulheres, Elias!

- São umas marafonas, que andam nas avionetas, de rata arejada. Não põem o traseiro nas picadas. Isso põem elas!...

- Acompanham os feridos, são muito úteis, no lugar dos homens. Deixam estes para a guerra. Quem manda, manda bem.

- E acompanham os padres, na boa-vai-ela! - disse rindo o soldado Elias ou Golias.

Nos musseques da cintura de Luanda, a pedido dos capelães, as enfermeiras pára-quedistas tinham uma missão sacramental. Amadrinhavam prontamente centenas de negrinhas e de negrinhos, arregimentados inocentemente para a religião oficial ou oficializada. Um punhado de água benta e a cantata de umas jaculatórias, com um pouco de sal, tiravam-lhes as marcas tradicionais do animismo, que a maior parte dos pais professava. Entravam na religião de Cristo ao som das metralhadoras, dos morteiros e dos canhões. Assim ficavam com religião de gente. Dizia-se. Gente era o branco, mesmo que analfabeto. Ignorante, abaixo de cão, era o preto, por sorte ou azar de ser negro.

Passavam numa ligeira trincheira com arbustos na crista. O sargento Norberto levantou-se e coçou as virilhas. Inesperadamente: um tiro. O sargento tombou de escantilhão sobre o soldado Elias ou Golias, que tentou ampará-lo, ao mesmo tempo que lançou um urro de raiva. Outro tiro e logo outro. Um cabo gritou estou morto e tombou pela parte de trás da viatura. O condutor, com grande sangue frio avançou uns metros, para tentar fugir da zona de morte. Os soldados saltaram da viatura, abrigaram-se nela e dispararam para todos os lados. O corpo do cabo ficou estendido na picada. Sobre a viatura, picou uma rajada. Um cabo tinha uma granada defensiva à cintura. As mãos tremiam-lhe. Num instante decisivo, arrancou a granada, tirou-lhe a cavilha e lançou-a por cima da viatura, para lá da crista da trincheira. Logo a explosão. Os militares das outras viaturas, fora da trincheira, dispararam desordenadamente para o terreno em declive, pejado de árvores. Não havia possibilidades de fazer fogo de morteiro, nem de lança-foguetes. Foram colhidos de surpresa, num local difícil. A guerrilha não escolhia horas para matar. Mas escolhia terrenos propícios, vantajosos para as emboscadas. Uma guerra em que a tropa, dita convencional, para dar caça ao inimigo, nunca sabia onde ele podia surgir. Era terrível aquela guerra.

Os guerrilheiros deixaram de fazer fogo. A tropa ia disparando por todo o terreno. Ninguém conseguia retirar o dedo do gatilho. Metro a metro, alguns militares rastejaram para as cristas da trincheira. Abrigavam-se, de árvore em árvore, sempre a fazer fogo. Ou matar, ou morrer.

No cume da trincheira, um furriel olhou para baixo e disparou a pistola-metralhadora, numa onda de raiva, para a esquerda e para a direita. Despejou, num ímpeto, cinco carregadores, varrendo o terreno em meia-lua. Não houve qualquer resposta dos guerrilheiros.

Os soldados começaram a falar. Refeitos do susto, tentavam saber o que tinha acontecido.

- Já deram com os calcanhares no cu - sentenciou um.

- Cortaram-nas, os filhos duma puta! - disse outro.

O soldado Elias ou Golias saltou para a viatura e gritou, chorando:

- O nosso sargento Norberto está morto!... Morto!...

A cara do sargento era uma máscara de sangue. A cabeça rasgada pela metralha de uma canhangulada, atirada à queima-roupa. Um buraco no osso frontal, com derrame de massa encefálica, o nariz desfeito, um olho vazado. O sangue escorrendo. Voluntário para a guerra. Voluntário para a morte. Humanista e altruísta caiu sem glória, martirizado no sacrifício total. Cordeiro, de sorte madrasta, imolado no altar da Pátria Lusíada. Sem Deus, nem anjo da guarda. No cumprimento do dever, na hora trágica e absurda da guerra, que ia ceifando a vida a muitos soldados portugueses.

De costas, caído na picada, olhos muito abertos, na imobilidade da morte, estava o cabo atirador Vasconcelos, atingido por três balas. Um tiro entre os olhos e dois no peito levaram-no para a outra vida. A boca muito aberta, como que rindo. Derradeira expressão de uma vida, que a Pátria imolou.

Amainada a situação, o alferes comandante da coluna correu a perguntar se mais alguém foi atingido. Só mais três soldados atiradores tinham sido feridos. Um com um tiro num braço e dois com tiros nas pernas, que o enfermeiro tratou. Foi apenas uma canhangulada. E fez efeito. A que levou o sargento Norberto. Fecharam-se os seus livros, cercearam os seus saberes, ludibriaram as suas ideias e ficaram órfãos os seus filhos. Viúva a sua mulher, na riqueza de uma pensão de sangue. Na dor e na glória póstuma de uma condecoração, no patético cerimonial do Terreiro do Paço, vestido de luto, no dia maior da Portugalidade. O Dia da Raça. Que raça? Preta ou branca? E os mulatos? Perguntar-se-ia em Luanda, especialmente na cidade da areia, de casotas de pau a pique, vasculhadas por polícias e por patrulhamentos militares, na hora do desagravo e da vingança. A guerra é demolidora. Num minuto tudo se altera. Talvez a geração órfã, filha dos combatentes em África, gerada nos últimos ardores da despedida, ou nascida antes da guerrilha, não compreenda esta guerra, que lhe roubou os pais que não conheceram.

Uivavam os ventos nas espessuras das florestas virgens. Gritavam os macacos, as hienas, os chacais e os abutres, ao rés das tropas metropolitanas, instaladas ou acantonadas em tendas, barracas, currais e galinheiros. Gritavam ou uivavam as matilhas famintas de mabecos, procurando as canelas dos patrões. E rugiam os leões, reis das savanas, ao troar das morteiradas. E gritavam os soldados, quando o aço ou o ferro lhes penetravam nas carnes e nos ossos, desfazendo braços, eliminando pernas, lacerando pés e testículos. E gritavam, contra as muletas, os amputados das pernas. E gritavam os que não podiam rastejar, amarrados à velocidade das cadeiras de rodas. E gritavam os militares que não tinham mãos para agarrar nos sexos. Mijavam pelas mãos dos outros. E gritavam os soldados que nem sexos tinham. Cerceados rentes pela metralha. Antes a morte. Diziam. A tragédia podia chegar a todos. Um dia era um, outro dia era o outro. E havia os soldados que endoideciam, gritando frases desconexas, perdidos da memória, das realidades e da vida. E havia outros gritos. Gritos sentidos para dentro, com angústias metafísicas de honra. O grito dos corneados. Avisados por amigos ou pela família. As guerras são palcos para todas as tragédias. E havia uivos nas picadas da Angola.

ALBANO MENDES DE MATOS


Bateria de Artilharia 147 caminha para o Norte de Angola, 1961.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

A GUERRA COLONIAL EM ANGOLA



A MORTE DO ALFERES


Era a hora do regresso da escolta que fazia protecção às colunas civis, que transportavam mercadorias, do norte para Luanda e da capital para o norte. A vida económica não podia parar. Estagnar era morrer, era abandonar os braços ao infortúnio. A tropa protegia, a tropa lutava por Angola, a tropa defendia os fazendeiros e os patrões. A tropa morria, por uma coisa que diziam ser a Pátria ou pela colheita de uns sacos de café. Guerra trágica e madrasta para muitos. Benfeitora para outros, acumulando-lhes os lucros. Os soldados morriam. Com honra. No caminho da eternidade. Encomendados pelo piedoso cantochão clerical. Depois, o silêncio. O silêncio na dor das famílias. Ditosos filhos. Tristes mães. Sangue derramado pelo outro, pelo colonialista, pelo irmão negro ou branco, que o destino pôs na guerra, ou o infortúnio de ter nascido uma vintena de anos antes. A morte na mira das armas, a vida na incerteza das horas. A guerra. Só a guerra na abertura larvar dos dias. A terra e a família no sobressalto das angústias, na paragem das horas e no receio das notícias. Perdidas no nevoeiro das distâncias e das memórias, as raivas e os uivos projectados no que restava das almas.


A coluna ia partir de Sassa para Beira Baixa, por caminhos de Quicabo.

- Não!... Vou antes no jipão artilheiro, que nunca foi atacado, eles têm medo da artilharia - disse o alferes, rindo, e tomou lugar num dos bancos da caixa da carga, empunhando uma pistola-metralhadora, onde ajustou um carregador.

- Ponha-se a pau, que eles andam por aí, meu alferes!... - disse-lhe o artilheiro Elias ou Golias, aconchegando-se para o lado, para o oficial ir mais acomodado.

- Agora, que tenho cá a minha cara-metade, apertam-me mais as ideias sobre tudo isto. Parece-me que estou a ter mais receio - retorquiu o oficial.

- Aprecate-se, meu alferes, que isto é uma roleta, que Deus ou lá o que é faz rodar, e a vida pode ser curta - respondeu o Elias ou Golias, torcendo os lábios e continuou - Uma boa mirada de turra e um aperto no gatilho fazem lerpar um gajo, num relâmpago, nesta terra que dizem ser nossa, isto é que é uma verdade - e passou a mão pela arma, gesto mágico ou carícia.

- É uma verdade, amigos!... - disse o alferes Meneses, ajustando a correia do capacete.


Sete Curvas!

Um só tiro, no amplo silêncio, para além do roncar dos motores. Um tiro certeiro e a morte. A tragédia do militar abatido por uma mirada traiçoeira. Uma espera para matar, a coberto da mata virgem, de mil segredos, de onde se ausentou a presença de Deus, talvez protegendo o guerrilheiro, caído nas suas graças, cerceando a dilatação da fé missionária, que a estrutura imperial teimava em proclamar. A Pátria estava a esmorecer, chamas amortecidas e diluídas nas realidades da guerrilha. Postas em causa as razões da lusitanidade nos destinos de Angola. Aventuras desfeitas em memórias. E febres angustiadas atormentando os espíritos. Colonos patriarcais analfabetos perdidos pelos sertões. Pasmados e incrédulos, levados pela voragem dos tempos. Amantes de negras, criadores de mulatagem, no cio dos dias, na vertigem das horas e nas ânsias dos dinheiros, sofrendo a angústia das horas incertas da guerra.

A bala trespassou o coração do alferes Meneses. Perfurou a fotografia do cartão de identidade, que o militar trazia no bolso da camisa. Cortou a efígie e atravessou o tórax. O sangue a borbulhar. A vida desfeita sem um grito. Na hora trágica, as parcas quebraram-lhe os fios invisíveis da vida. O sacrifício do sangue ou o óbolo em nome da Pátria. A Pátria honrada por ter tais filhos. Merecedora dos mortos. O alferes na barca de Caronte, a caminho do imaginário Paraíso. A morte inocente, nos altares da Pátria, não pode ser lambida pelas sagas infernais. A boca aberta, os lábios suspensos pelo último rasgo de ar. A luz quebrou-se-lhe nos olhos arregalados. A escuridão cerrou-lhe as pupilas, rasgou-lhe as retinas. As pálpebras pararam de terror, para lá do infinito. Nos longes de Deus, nas mãos do diabo. Apenas nada.

Estampido sentido e logo a metralha infernal varreu as imediações das bermas da estrada. Depois, o voo para o chão, para a terra protectora, sorvendo os aromas acres da guerra. O tiroteio nas margens do capim, na foz da vida, rente à morte. Salivas e espumas amalgamadas no pó barrento, aos cantos da boca. Dentes cerrados de raiva. Pingos de urinas incontidas, na junção das pernas, flatos sumarentos, nas tremuras das terminações corporais, e a histeria gritante de alguns soldados bêbedos, soluçando arrotos de cervejas mal bebidas, inebriados pelas cóleras da guerra, perdidos na imensidão da Pátria. Pátria ou Mátria semeada de violências, de picadas poeirentas, de imbondeiros fantasmas, de surucucus traiçoeiras, de desertores conscientes, de colonizadores ávidos de angolares, de soldados rudes e analfabetos defendendo a hipocrisia histórica, unhas afiadas nas forças cegas do destino. E o silêncio dos mortos… milhares de mortos… Abatidos sem sentido, cujas memórias levam aos caminhos do desespero, da cólera e dos uivos mordidos até ao derradeiro alento, ou gritos famintos de esperança, nos destroços da África perdida.

À ordem dos chefes, o tiroteio abrandou. Um disparo aqui e ali e logo o silêncio. Um silêncio enervante rente à estrada, ao rés da alma enrolada como um verme a rastejar na terra ensanguentada. Os odores da morte a emergirem das silhuetas esverdeadas dos morros e o vento a gemer árias breves nas hastes do capim. Nunca a música dos infernos soara tão clara, tão simbólica. Timbres compassados na lentidão do tempo, sinfonias fúnebres sem alvoradas. A natureza embebida no luto, ou o dobre de finados pela morte, sempre presente, adivinhada em cada curva, em cada esquina.

O soldado Elias ou Golias, de pé, no jipão, boca arrepanhada por gestos de raiva, levantava o corpo do alferes, antebraços suspendendo as costas. As pernas caídas para um lado, a cabeça tombada para o outro, na moleza ainda quente da morte. Trágico cenário de peregrinas histórias. No altar da Pátria, José de Arimateia chora Cristo descido da cruz, sem mulheres, sem a Mãe, nem Madalena lavada em pranto, adúltera sem apedrejamentos. Sem lágrimas. Menino de sua mãe, o alferes Meneses morria e arrefecia na solidão triste do dia aziago, nos confins do sertão, sem Deus, exilado da vida. Sinistros eram os uivos lúgubres e repentinos, que o cão Pantera começara a lançar, nos faros da adrenalina e dos fétidos suores e outros odores corporais.

Elias ou Golias pousou o cadáver no jipão, cerrou-lhe as pálpebras, fechou-lhe a boca, estendeu-lhe os braços. Ergueu-se tremendo, olhos nas alturas e assentou dois murros na própria cabeça. Chorava. Passou o olhar pelos camaradas e gritou:

- Puta de guerra!... Só assombrações!... Onde pára esse Deus dos padres?

O mosquedo rodopiava em volta do corpo do alferes, picando sobre as manchas sangrentas da camisa. As moscas azuladas, ávidas de sangue e de carnes, eram os primeiros insectos a procurar os cadáveres. O cão, irrequieto, tentava abocanhar os insectos, trincando no vazio. Os dentes afiados, em inconstantes tiques nervosos. A guerra não era apenas dos homens. As moscas e os cães invadiam-na. Ao rés da tragédia. Do uivo. Nas margens do sangue. Sagrado e apodrecido, derramado nas terras vermelhas do sertão. A dor e a tristeza arrepiadas nas fibras sensíveis da alma. A vida e a morte jogadas nas curvas das picadas, nas orlas das matas e nas incertezas dos trilhos, minados por traiçoeiras covas-de-lobo. E os soldados cumpriam. Sofriam os rigores do clima, os desesperos da sede, a monotonia da alimentação e os febrões do paludismo. Mas cumpriam. Disciplinados. Humildes. Heroicamente rudes. Nas iras contra a morte. Nas raivas dos mutilados. Cumpriam sempre. Nas calhas do destino. Nas agruras e nos trágicos acontecimentos da guerra, em nome da Pátria.

Todos blasfemaram o momento. Um só tiro no peito do alferes. Perdido na honra da guerra. Um só disparo guerrilheiro. Uma só bala certeira no coração do alferes Meneses. A mulher em Luanda: Penélope sem regressos, sem fio de meadas para dobar. Viúva da Pátria. Viúva da guerra inaudita. O povo a morrer com os pedaços do Império.


Albano Mendes de Matos






Bateria de Artilharia 147 - Coluna a caminho do Norte de Angola.



Norte de Angola, 1961 - Funeral de militar, enterrado num terreno de secagem de café.